Os Hebreus - Religião e Cultura: Adão, o Antitípico do Ser Humano

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Adão, o Antitípico do Ser Humano

Uma característica patente da cultura religiosa dos antigos hebreus estaria na crença de que existiriam dois planos da realidade. Um seria este plano em que vivemos, o qual nos estaria aberto a exploração mediante a percepção por nossos sentidos. O outro plano da existência seria vedado a presença humana, dado como lugar de morada de seres em tudo superiores a nós, que lá viveriam na presença daquele que a tudo teria criado. Não por acaso os hebreus chamariam esta suposta dimensão de shamayim denotando um lugar elevado, inacessível ao ser humano, do qual os hebreus nada poderiam saber, a não ser o que lhes fosse revelado por quem lá supostamente vivesse. Voltemos então nossa atenção para aquilo que os hebreus consideravam ser possível conhecer.

Contam que em dado momento o Pai, criador daqueles seres superiores na inacessibilidade de seu plano de existência seria tomado pela vontade de criar este universo que pretendemos conhecer, de modo que nele pudesse estabelecer outras formas de vida diferentes daquela que existiriam em seu plano. E a vontade do Deus dos hebreus seria de tal modo irrepreensível, que assim como ele desejou, foi feito. O Deus dos hebreus então veio a criar primeiro o inteiro universo visível com todo o esplendor de seus até agora incontáveis e desconhecidos corpos celestes. O Deus voltaria então sua atenção para um ínfimo ponto do universo resolvendo nele estabelecer a razão pela qual teria criado tal plano de existência: os seres feitos de carne.

No relato da criação, segundo os hebreus, começaria então um período completo de adequação deste nosso planeta, para que ele fosse capaz de manter vivos os seres que haveriam de ser criados, compreendido no relato este período por uma contagem regressiva de seis períodos menores e distintos que culminariam na formação de um ser inteligente o bastante para gerir tudo o que fora disponibilizado aos seres desta realidade. Este ser seria aquele que os hebreus reconheceram pelo nome de Adão.



No idioma hebraico, o termo adham é usado como designativo do ser humano em geral, nem sempre se referindo exclusivamente ao gênero masculino, e sim a humanidade como um todo. De modo que o Deus, quando resolve chamar ao primeiro homem de Adão, coloca sobre seus ombros a responsabilidade sobre o potencial latente em sua capacidade reprodutiva. No mito hebraico da criação o Deus ao criar o primeiro homem, na verdade teria criado a inteira humanidade, e deixaria isso claro no nome escolhido para ele.

Adão teria sido feito a semelhança de seu criador, mas não no sentido de que poderia transitar livremente entre os dois alegados planos da realidade supostos pela base da religiosidade hebraica. Mas no sentido de que, mesmo estando restrito aos limites da realidade palpável como um ser menor em poder que aqueles de outra natureza, ainda seria em muito superior a todas as demais criaturas deste plano, tendo como fator distintivo a inteligência que o aproximaria da divindade. O Deus, sob o ponto de vista dos hebreus, não seria então antropomórfico como sugerem alguns analistas, mas o homem é que seria em certa medida teomórfico, advindo daí as notáveis semelhanças entre o Deus hebreu e os homens.



Uma vez formado o homem, ele deveria seguir estritamente as orientações de seu criador, colaborando com o desejo do Deus de encher todo este planeta com seres iguais a ele. Mais ou menos como somos obrigados a seguir as instruções de uso dada pelo fabricante de um produto, se quisermos obter o melhor rendimento deste produto naquilo para o que ele foi feito. Ocorre no entanto que, em dado momento, por questões que abordaremos em outra oportunidade, este primeiro homem encontrar-se-ia convencido de que as capacidades inerentes que o Deus lhe dera seriam suficientes para que ele decidisse por si mesmo o que lhe seria bem ou mal, para poder assim melhor usufruir de sua vida. E num ato que representaria esta determinação, o homem afastar-se-ia então de seu criador, tornando-se imperfeito.

Na linguagem dos hebreus, os termos que nos remetem a perfeição sugerem o sentido do que é completo, daquilo a que nada falta, tanto quando consideramos o sentido físico, como em qualquer outro sentido em que consideremos a integridade total do objeto em questão. Depois de abrir mão do complemento que o Deus lhe disponibilizaria mediante sua estrita orientação, o homem tomaria a peito  a missão de encher a Terra com seres iguais a ele mesmo. No entanto, como alguém que decide fazer um prato culinário elaborado sem ter a receita, Adão erraria a mão, e seus filhos seriam feitos tão ou mais incompletos do que ele mesmo se tornara, sendo esta a razão alegada pelos hebreus como origem de toda a infelicidade humana.

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