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Bem vindo. Vamos falar dos Habiru.
Em 1887 uma camponesa encontrou por acaso tabuinhas de argila próximas à cidade de Tell-Amarna, a duzentos e setenta quilômetros ao sul de Cairo. Isto levou a excitante descoberta de um vasto acervo de documentos em acadiano, o idioma assírio-babilônico, que tratam de uma espécie de prestação de contas dos reis vassalos das numerosas cidades reinos espalhadas pelo território que abrange a Síria e a Palestina enviadas ao Faraó Amenotep III e a seu filho Aquenatão. Nas quase quatrocentas tabuinhas encontradas existem numerosas queixas dos governantes aos suseranos egípcios contra um grupo étnico, chamado nos relatórios de habirus, que estariam promovendo incursões e ataques contra suas cidades, inclusive contra Urusalem (que os hebreus chamaram Jerusalém).
Desde então há um esforço de vários historiadores em identificar os habirus com os hebreus do "Antigo Testamento". A despeito das diversas tentativas de conciliação entre o conteúdo das tábuas cuneiformes e o relato do antigo testamento, existe ainda grupos mais críticos que afirmam haver incongruências intransponíveis na comparação descritiva dos dois grupos. Especialmente no que diz respeito a datação dos relatos de ataques dos habirus e o êxodo dos hebreus (eles partem do princípio que hebreus seriam só aqueles descendentes de Abraão saídos do Egito).
No entanto heveria ainda uma possibilidade não de todo descartável de que as antigas referências acadianas e egípcias aos habirus (ou apirus em alguns documentos egípicios) pudessem remeter aos hebreus.
Desde que se leve em consideração a origem do termo hebreus como patronímico de um povo, ou seja um designativo que faça referência direta ao patriarca que deu origem a este povo. Se considerarmos que o termo hebreu se referisse a descendência do patriarca Héber, bisneto de Sem no relato hebraico, o termo assírio-babilônico "habiru" poderia ser visto como uma corruptela decorrente da transliteração do hebraico ivri para o acadiano.
Héber, segundo contam, teve vários filhos entre os quais Pelegue e Joctã, listados como originadores de povos distintos. Os filhos de Joctã viriam a se estabelecer na península Árabe, enquanto os descendentes de Pelegue iriam para a Mesopotâmia. E é de lá, da Mesopotâmia, que se alega a origem de Abraão, o primeiro a ser identificado pelo designativo de "hebreu" nos escritos hebraicos.
Poderia ser que o termo apelativo habiru fosse uma designação genérica dada pelos povos residentes a todos os nômades espalhados pela área chamada Crescente Fértil (*), mas que teriam em comum a descendência do mesmo patriarca original, Héber, tanto pela linhagem de Pelegue e Joctã como pela linhagem dos diversos outros filhos de Héber.
O fato é que o relato veterotestamentário trata especificamente dos hebreus na linhagem de Pelegue, na qual nasceram Abraão, Isaque e Jacó, o que não exclue a possibilidade de haver outros descendentes de Héber, que acabaram perdendo esta identidade com o tempo por não manterem a mesma coesão cultural que os descendentes na linhagem de Pelegue mantiveram.
Então sim, os Habirus poderiam ser realmente Hebreus, mas por uma de descendência diferente daquela que a linhagem dos hebreus do "Novo Testamento" tiveram.
(*) Crescente Fértil - "é o termo criado pelo arqueólogo James Henry Breasted, da Universidade de Chicago para designar a região do Oriente Médio, compreendendo os atuais Israel, Cisjordânia e Líbano bem como partes da Jordânia, da Síria, do Iraque, do Egito, do sudeste da Turquia e sudoeste do Irã." (Wikipédia, sob o artigo Crescente Fértil)
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